Fortalecendo

28 de maio de 2010



Ooooba, ganhei um selinhoooooo!

Quem me mandou foi a memiga Bia Rodrigues (http://detudoumpouco-bia.blogspot.com/).
Valeu, Bia, ameeeei... 

Regras do selinho:
~~> Responder a pergunta " O que tem na sua bolsa nesse exato momento?"

~~>Repassar para 10 blogs.


Então, vambora...
~>Celular
~>Carteira
~>Batom
~>Chaves
~>Chocolate
~>Livro
~>Prendedor de cabelo
~>Óculos

(Sim... minha bolsa é enormeee! hehehe)

Vou repassá-lo para os seguintes blogs:

~>http://dezinteresse.blogspot.com/
~>http://brendanepomuceno.wordpress.com/
~>http://semamorsoaloucura.blogspot.com/
~>http://meuduplo.blogspot.com/
~>http://queridaamelie.blogspot.com/
~>http://bebidaeamorsemgeloporfavor.blogspot.com/
~>http://doceguria.blogspot.com/
~>http://umanjomaisvelho.blogspot.com
~>http://fabi-avidacomoelae.blogspot.com/
~>http://avidaecorderosa.zip.net/

13 de maio de 2010



 Aquilo lhe fazia sentir medo. Olhava aquelas crianças todas ao seu redor e ficava pensando porque gostavam dela. O que ela teria feito de especial para que tivessem aquele apego por ela. Identificava-se com eles, vai ver era isso. Queria estar no lugar deles, não precisar se preocupar com nada além de ir na escola... O tempo passa tão depressa. Tão bom viver quando se é criança.
E quando ainda somos crianças não vemos a hora de crescer logo... soubéssemos nós o que nos aguarda!
O que ela mais desejava era poder sair correndo dali e nunca mais voltar àquele lugar. Olhar para aqueles olhinhos cheios de esperança lhe atemorizavam. Tinha medo de passar sua dor para eles, afinal, tão próximos eles estavam dela... E se eles percebessem no seu olhar o quanto era duro viver naquele corpo, naquela pele, naquela vida??
Não queria decepcioná-los, mas ao mesmo tempo sua maior vontade era dizer a todos o que ia em seu coração... Dizer a eles que aproveitassem ao máximo sua infância, porque ser adulto não é fácil. Viver é uma dádiva fatal, como já disse o poeta. Crescer talvez seja a coisa mais dolorosa pela qual tenhamos que passar na vida. Talvez seja pior que ter que fingir que somos aquela pessoa que desejam que sejamos. Aquele personagem que temos que interpretar diariamente para cumprir convenções... Para não assustar as pessoas.
Aquelas crianças lhe faziam pensar na sua infância... queria voltar no tempo e poder paraliza-lo.
Mas não poderia...

11 de maio de 2010

Mais uma na multidão


Meu estado de espírito nos últimos dias: neutralização total. Nada pode me abalar. Me sinto apenas mais uma na multidão. Nada pode me afetar de maneira nenhuma. Sei que isso não vai durar por muito tempo, mas enquanto me sinto assim vou recuperando as energias, de certa forma.Vou me abastecendo de cargas positivas que me manterão razoavelmente bem quando esse sentimento de estar neutra a tudo passar. E assim vou levando, dias bem dias não... Vou sobrevivendo.
Curioso pensar como funciono... Coisas que me tiram do sério em segundos podem passar longos períodos sem que me façam a menor diferença. Em outros períodos, porém, pensar estas coisas já me abala com um terremoto abalaria a terra. Dias e dias de angústia por coisas vãs... dias e dias de "tanto faz" por estas mesmas coisas. Muitas lágrimas derramadas, ou então, passo por elas e nem as vejo, nem as sinto.
E eu vou sobrevivendo. Cicatrizes vão surgindo, afinal o curso da minha vida não está em minhas mãos. Não depende apenas de minha vontade, então não tem muito que possa ser feito. A única coisa possível é esperar. Esperar que os maus sentimentos passem e que os bons cheguem logo... E que fiquem por um bom tempo. Pelo menos por um tempo maior que os sentimentos ruins. 
Mas como sempre, estou perdendo o foco do que me fez escrever hoje. Comecei falando de estado de espírito.... não sei se esse termo é o mais correto a ser aplicado aqui. Talvez devesse chamar de estado de coração. O meu hoje está parecendo uma bloco de concreto. Algo impermeável, talvez... inatingível. E desejo que assim permaneça pelo máximo de tempo possível, para que quanto mais ele permaneça endurecido, menos eu sofra por coisas, pessoas, situações que não merecem meu sofrimento, minhas lágrimas. Meu pesar, enfim. Que eu possa não apenas estar assim, mas assim me tornar, para poder viver em paz. Comigo mesma e com o mundo ao meu redor.



2 de maio de 2010

Saber voar


Queria saber voar para quando me sentisse assim, com a alma em pedaços, pudesse alçar vôo em direção ao novo. Queria saber voar para quando me pisassem o coração pudesse simplesmente bater asas e me afastar de tudo que me fere. Voar livre, leve, sem direção, sem horário de partida nem de chegada.
Quando me sangrasse essa eterna ferida, queria poder sair por aí, planando sobre bosques e jardins floridos. Pousar calmamente num galho de uma laranjeira qualquer e ali ficar, até por em ordem os pensamentos. Até sentir a paz necessária para continuar vivendo no caos diário de não saber quem se é de verdade. Pousar sobre um ramo de capim à beira de uma estrada deserta, ou de um lago, talvez, e permanecer ali até encontrar algum sentido para a vida naquele turbilhão de sentimentos confusos e desconexos.
Queria ter asas. Asas que pudessem me levar para longe de tudo e de todos quando me faltasse o ar para respirar. Quando me sentisse do tamanho de um grão de areia. Um grão de areia levado pelo vento... Pequeno, minúsculo, perdido na imensidão. Assim me sinto no momento em que mais desejo ter um belo par de asas que me salvasse de quem eu sou. Daquilo que sinto. Daquilo que esperam que eu seja, daquilo que finjo ser.
Queria saber voar apenas. E só. Ser livre enfim, de mim.

Pássaro na gaiola


Mais uma vez aquilo se repetia. Dez, onze horas. Meia noite. Foi dormir, cansou-se de jogar no computador. Não era a primeira vez que ele tardava a chegar em casa, mas isso vinha se tornando muito freqüente. Antigamente ficava furiosa com ele, desesperada até, pode-se dizer, mas há muito que não se sente assim. Antes não dormia esperando ele chegar, chorava, pensava sempre nas piores coisas. Agora não mais. O que sentia agora era uma sensação estranha, um misto de indiferença com um certo alívio por ter passado a noite sem ele.
Naquela noite, não voltou para casa. No dia seguinte, quando apareceu, já estava quase na hora do almoço. Ele lhe pareceu transtornado. Não a olhava nos olhos e tinha aquele jeito que ela já conhecia quando ele mentia. Ela não lhe perguntou nada. Não queria saber com quem estivera, onde estivera. Até porque já estava cansada de ouvir mentiras. Estava cansada de fingir que acreditava. Estava cansada de ser aquela que ele esperava que ela fosse. Estava cansada de ser aquela que todos esperavam que ela fosse.
Ele tomou um banho, comeu um sanduíche e foi dormir. Pareceu-lhe tenso, nervoso, mas não se interessou em perguntar-lhe nada. Não queria ter sua inteligência subestimada.
Almoçou só com o menino, que por diversas vezes foi até o quarto chamar o pai, mas ele não lhe ouviu. O garoto queria brincar e já havia chamado pelo pai logo cedo, ao acordar-se. Sentia sua falta. Queria o pai de corpo e alma e não somente de corpo, como normalmente acontecia. Era agora isso que mais lhe doía. Isso  realmente lhe feria, ver o filho desejando a presença de uma pai que, mesmo junto, estava sempre muito distante. 
À tarde, ela saiu com o menino, ele ficou dormindo. Quando ela voltou, ele ainda estava deitado. Ele tentou falar onde estivera, mas ela o deteve com um gesto. Não era mais possível continuar com aquilo, aquele jogo de "mente-que-eu-acredito" estava acabando com ela. Já não suportava mais. Nem tinha porque suportar, pensou. O encanto do início, há muito que se perdera; respeito, se houvesse ainda, não haveriam as mentiras. Para que então ficar mantendo aparências, passando uma imagem de casal feliz, se em verdade sua vida estava em ruínas? Não queria mais aquilo. Não tinha mais forças.
Ela queria ser ela, ser alguém livre para fazer as próprias escolhas, livre para tomar suas próprias decisões sem interferências. Ela simplesmente queria paz, um pouco de paz, uma vida normal. 
Ele não percebia o quanto mal lhe fazia cada vez que mentia para ela, cada vez que chegava em casa tarde, desferindo suas palavras contra seu coração. Ela não tinha liberdade para ser aquilo que desejava ser. Não conseguia sequer expor o que pensava, pois era muita pressão, não só do marido mas também por parte de outras pessoas, tanto familiares quanto demais pessoas com as quais as circunstâncias a obrigavam a conviver diariamente. 
Sentia-se como um passarinho quando entra acidentalmente por uma janela. Fica se debatendo em busca da saída, mas não a consegue encontrar. Voa em direção à claridade, mas só consegue encontrar uma vidraça fechada. Debate-se contra objetos e móveis, até cair, ferido. E quando finalmente é pego, imagina que vai ter de volta sua liberdade, mas o seu destino é a gaiola. Já não canta. Não tem mais alegria ao amanhecer. A vida passa e ele apenas assiste. Assim ela está. Como um pássaro aprisionado numa gaiola feita de pessoas. Cujo canto agora é um lamento de dor ecoando no silêncio de seus pensamentos. 



Soubesses tu como me dói o amor sobre as asas, como as arranca e as pisa, as queima. O amor é tal e qual um enorme pássaro de fogo a queimar-me a pele, a rasgar-me a carne que me constitui o peito. Os pássaros têm alma, os pássaros oferecem coração quando cantam. E eis que eu sou um pássaro. Canto o amor que me mata e ainda grito contente como me dói o amor sobre as asas. Eis o que sou: um pássaro de ferro, fogo e lágrimas. Um pássaro pintado de cores bonitas que se afoga na tinta que cobre as suas penas. E eu, que cresci em gaiola de ouro e sonhei com flores de laranjeira, nada sou cá dentro senão um pássaro. Sabes, mesmo em gaiola de ouro, o pássaro não deixa de ser pássaro aprisionado no seu próprio sonho. Respiro ouro, mas choro água. E tu és, algures, o ar para lá da gaiola e da laranjeira. Eu estendo as asas e és tu o céu que eu quero atingir para lá das grades. Tu és céu, eu sou ave. O que acontece a uma ave quando a privam do céu?

(Drummond)

1 de maio de 2010

Para uma avenca partindo


Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viveras superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualqueratraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um diadestes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.