Fortalecendo

16 de julho de 2011

Pássaro pousado no dedo


E agora? Duas ligações depois, ambas interrompidas abruptamente por Alice, dois torpedos cheios de sentimentos de fadiga escondidos nas entrelinhas...
Palavras que não deveriam ter sido ditas, palavras que não precisavam ter sido ouvidas. E o amanhã? A esta altura já nem sabia se haveria um amanhã. Pelo menos não um amanhã contando com a “amizade colorida” dos últimos quase cinco meses.
Amizade colorida, pois sim! Aquilo era paixão das bravas! Pelo menos da parte dela. Da dele também, era visível, porém ele não admitia aquilo e lá no fundo do seu coração ela sabia que isso não aconteceria tão cedo.
Eram 19h e 48 minutos de sábado. Todos os casais de namorados normais de que se tem notícia estão se preparando para se encontrarem. Com Alice não estava sendo dessa maneira. Com ela sempre foi tudo ao contrário.
Achava incrível essa coisa toda. Quando ele queria,  ela tinha (e queria) que estar disponível, cheirosa e sorridente para ele. E quando ela queria? Quem se importava? Quando ela queria (e precisava e sentia que morreria se não o encontrasse) ele estava cansado. Estava com sono. Estava precisando de um tempo só pra ele.
Que porra de tempo só pra si é esse em que se fica sozinho na companhia de outras pessoas que não ela? Não entendia. Sim. Tinha Alice problemas em ouvir “nãos”. Eis um pequeno fato. E ela se perguntava: é minha culpa?
Como agir? Ligações interrompidas por ela. Torpedos que fariam com que se arrependesse, muito provavelmente. E agora? Ligar ou não ligar? Deveria pedir desculpas? Gritar com ele desferindo palavras rudes? Essa desorientação  lispectoriana a afetava de todas as maneiras.
Esperava. Tinha que esperar. Por mais que isso a inquietasse, a angustiasse e atormentasse. Estava gritando por dentro, mas seu rosto conseguia esconder razoavelmente bem a agonizante sensação de não saber o que estava por vir, mesmo sabendo. 




“Amar é ter um pássaro pousado no dedo.Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.”
Rubem Alves

8 de julho de 2011

Me abrace


Caio
Como você está hein? Há dias não nos falamos, não é mesmo? Três dias para ser mais exata. Desde a última carta. Que bom que tu vieste! Bem... nesses dias frios como tem sido estes últimos me sinto um tanto carente, tu bem sabes disso e além do mais a tpm consegue me deixar um pouco mais carente que o normal nesses dias. Fico agitada, sentindo aquele velho aperto no peito. Bom. Tu também sabe como fico nervosa e nada está bem pra mim.
Acho que só tu é que entendes que quando estou me sentindo assim, seja por conta da tpm ou dos dias desse inverno aqui no sul, tudo que desejo é abraço. Abraço e um chimarrão à beira do fogão à lenha. Aquele mate que tu toma em silêncio, olhando pro nada ou então pras labaredas no fogão. Pensando mil coisas, relembrando antigas dores... 
Esse frio tem o dom de me deprimir um pouco... bendito inverno! É tão difícil atravessar agosto, mas é tão lindo! O inverno é a época mais bonita do ano. A que mais mexe comigo, de alguma forma. Deve ser porque é a época em que saio menos de casa. 
O aconchego de casa não me permite sentir vontade de colocar os pés na rua para nada além do necessário. E fico em casa pensando, matutando tantas coisas. Talvez seja esse ócio que me faça sentir aquele aperto no peito. 
Ontem saí, Caio. Fui até o lado oeste da cidade visitar uma pessoa, já que não consegui telefonar. Acho que nem preciso mencionar o nome da pessoa, afinal já falamos tanto sobre ele não é mesmo? 
Ele tem sido o sol nesses meus dias tão nublados, Caio. Ele tem sido essencial para que eu não enlouqueça com todos os acontecimentos da minha vida. Como pode ele ser capaz de me acalmar, mesmo da maneira mais estranha e inesperada? Você já amou alguém assim, Caio? 
Hoje falei com uma amiga que contou que certo dia leu um estudo que afirmava que após 70 dias de relacionamento a paixão acaba. Já fazem mais de 120 dias e eu continuo sentindo toda aquela empolgação dos primeiros dias. Será que a paixão resistiu? Será que evoluiu para o amor? 
Ah quanta coisa para pensar... quanta coisa pra sentir. Outras tantas para viver. Viver. Viver... será que de agora em diante viverei, além de sobreviver? 
Porque sobreviver é coisa que qualquer um consegue. Mas viver...  ah, viver é bem mais complicado. Viver exige entrega total. Desprendimento. Tenho vivido dias lindos, como já te disse outro dia, mas quando entro aqui, nesse quarto de paredes desgastadas pelo tempo, é impossível que eu não me sinta um tanto quanto fracassada. 
Deve ser o frio. É. O frio sempre me deprimiu um pouco. E hoje estou de tpm, por favor entenda. Não diga nada, apenas me abrace. Me abrace e vem tomar comigo um chimarrão. Pra aquecer o corpo. Aquecer a alma. 
Fica aqui esta noite, Caio. Está muito frio pra seguires ainda hoje para Curitiba. A nossa amiga te espera, eu sei bem, mas dorme aqui esta noite. Te aquece. Me abrace. 
Boa noite, Caio.

5 de julho de 2011

Querido Caio




Querido Caio

Que bom poder te escrever mais uma vez. Sei que com você posso contar, que para você posso contar o que se passa no meu coração. Aliás, você me conhece tão bem que nem mesmo preciso falar, tu falas por mim como se fosse eu mesma. Tuas palavras se encaixam perfeitamente naquilo que estou sentido e nem sempre consigo expressar. Acho incrível essa sincronicidade de pensamentos... 
Tu sabes a necessidade que tenho de saber o que sentem por mim, neh Caio. Talvez seja porque eu mesma precise demonstrar o que sinto... não sei agir de outra maneira. 
Sou assim, só coração. Zero razão, mas isso não é novidade pra ti. Mas vou vivendo, aprendendo, me adaptando e aceitando que nem todas as pessoas tem essa necessidade de demonstrar os sentimentos e isso não significa que não sintam nada. Sentem sim. Cada um ao seu modo, nem melhor nem pior. Apenas de outra maneira, por mais difícil de aceitar que seja.
Estou com um pouco de pressa hoje, mas volto a te escrever em breve, Caio. Sempre que me sinto só leio algumas coisas que tu escreveste pra mim. Porque tu escreveste para mim, eu sei... Sou eu ali em cada uma daquelas palavras. O tempo é transcendido a cada linha. 
 Fique bem, queira estar bem... 

1 de julho de 2011